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      A preto e branco
      Luís Cirilo Carvalho
      2018/12/26
      E6
      "A Preto e Branco” é uma coluna de opinião que procurará reflectir sobre o futebol português em todas as suas vertentes, de uma forma frontal e sem tibiezas nem equívocos, traduzindo o pensamento em liberdade do seu autor sobre todas as questões que se proponha abordar.

      O Pai Natal é, como todos sabem, um velhote simpático, rechonchudo, de fartas barbas brancas que traja umas vestes vermelhas e um gorro da mesma cor e se faz transportar num trenó puxado por um conjunto de renas.

      Para os crentes nas suas potencialidades, e são muitos pelo mundo inteiro, o Pai Natal é aquela veneranda figura a quem as crianças (e pelos vistos não só...) fazem as suas encomendas natalícias na esperança de que o simpático personagem as satisfaça por mais estranhas e mirabolantes que possam parecer a quem nele não acredita.

      O Pai Natal é um produto de importação, digamos assim, que em Portugal teve o enorme sucesso guardado para tudo que vem de fora como o Carnaval, o Halloween, o dia de S.Valentim e quejandos porque se há coisa que os portugueses adoram é aquilo que é moda noutros lados e aparece por cá mais dia, menos dia.

      E por isso o Pai Natal foi moda de sucesso imediato, desde há décadas a esta parte, rivalizando na iconografia natalícia com o “Menino Jesus”, a quem tradicionalmente eram feitos os pedidos de prendas de Natal.

      É, pois, uma instituição de Natal ansiosamente aguardada nas casas dos portugueses que nele acreditam constituindo-se numa verdadeira tradição da época natalícia  que começa a ser preparada com bastante antecedência porque as “prendas” demoram o seu tempo a ser preparadas.

      Este ano, uma vez mais, o Pai Natal andou por aí visitando as casas de ricos e pobres, de grandes e pequenos, de quem nele acredita ou nele se vê obrigado a acreditar face a evidências que se metem pelos olhos dentro.

      Uma das casas que o Pai Natal este ano visitou, correspondendo seguramente à enorme vontade de o ver por lá, foi a sede da Federação Portuguesa de Futebol, ali para os lados de Oeiras, onde deixou uma prenda ansiosamente aguardada, que foi o sorteio da Taça de Portugal.

      Eu explico:

      Naturalmente que a FPF, como instituição séria que é, organiza todos os anos a Taça de Portugal mas sem privilegiar qualquer equipa sendo-lhe perfeitamente indiferente quem a vence edição após edição.

      E, por isso, nos últimos anos, clubes como o Vitória, o Braga, a Académica, o Vitória de Setúbal e o Aves venceram a competição em compita com outros clubes que já eram dados como vencedores anunciados mas...não ganharam!

      Num país tão dado a tradições, ainda que importadas, como o Pai Natal, terá nalgumas pessoas começado a lavrar o sonho secreto de cumprir tradições do antigamente e voltar a ter uma final de Taça em que o vencedor, sendo A ou B não fosse C, e por isso o troféu ficasse pela certa na posse daqueles que tradicionalmente o ganham.

      Uma final do antigamente terá sido o pedido, em sonhos naturalmente, ao bom do Pai Natal.

      Acontece que o panorama tinha algumas dificuldades para poder ser concretizado.

      Nas oito equipas apuradas para os quartos de final estavam sete vencedores da Taça (Benfica, Porto, Sporting, Braga, Vitória, Aves e Leixões) apenas ficando de fora o Feirense como único clube sem o troféu nas vitrinas.

      Ainda por cima nos oito cinco deles ocupam os cinco primeiros lugares da classificação o que parecia apontar para uns jogos de quartos de final muito equilibrados e sendo provável que houvessem encontros entre os tais que os sonhos de alguns colocavam na tal final do antigamente.

      Mas que chatice, terão pensado.

      Se calhar ainda não é desta que vamos ter uma final com um dérbi dos antigos,que ponha frente a frente dois dos três maiores clubes do país, e ainda vamos ter de aturar um ou dois “patos bravos” a marcarem presença na única coisa garantidamente velha da final que é o estádio do Jamor.

      Desconfio que erraram no pessimismo.

      Por um lado, porque subestimaram os imensos poderes do Pai Natal e, por outro, porque se esqueceram que o bom do velhote percebe de prendas e da realização de sonhos mas nada entende de estatística e de leis das probabilidades.

      E foi por isso com um encantamento que apenas o Pai Natal poderá explicar que viram o sorteio da Taça corresponder a tudo aquilo com que sonhavam, mas jamais se atreveriam a exprimir, nem que fosse a brincar.

      O Pai Natal deixou no sapatinho da FPF quatro jogos em que os quatro primeiros não se defrontam entre si!

      Melhor não seria possível.

      Até porque o alinhamento para as meias finais também aponta para uma final do antigamente, salvo uma grande surpresa.

      É certo que os quatro primeiros jogam todos fora (eu bem digo que o velhote não percebe nada de estatística nem de leis das probabilidades...), mas excepto num dos casos em que a um dos favoritos do Pai Natal saiu a “fava”, tendo de jogar num estádio dificílimo para qualquer visitante, para todos os outros pouca diferença fará jogar fora de muros tal a diferença de valores que se conhece.

      E, por isso, tudo se conjuga para que esses sonhos natalícios de alguns tenham pleno cumprimento lá para Maio do ano que vem com a disputa da final há tanto tempo ansiosamente sonhada!

      A não ser que Vitória, Feirense, Aves e Leixões resolvam arvorar-se em desmancha prazeres e estragarem, individualmente ou a dois (era bonito...), os tais sonhos natalícios de alguns e marcarem presença na final, contrariando todo o laborioso e discreto trabalho do Pai Natal em sentido contrário.

      Coitado do Pai Natal, mas feliz do futebol português.

      P.S. Não acredito minimamente na existência do Pai Natal, mas é problema meu, como está bom de ver...



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